o tempo
3~ a falta dele. zoada do mundo. tecnologia e a pane do zuck. tentar desaparecer dos algoritmos. a não linearidade das coisas. continuar
assistindo a aula de um curso com ricardo aleixo, lembrei desse poema que ele fez:
fiquei cabreiro sobre o tempo. a falta dele. como praticar este ofício, se tenho antes que tentar sobreviver ao trabalho remunerado, o horário comercial, o trabalho não remunerado... trabalhando que nem um doido pra correr atrás do básico. viver com dignidade no brasil de 2021 custa caríssimo.
e é curioso como as coisas convergem. aqui, a news da aline valek falou sobre desistência e assuntos de mesma atmosfera. nesta flows magazine, luciana, a partir do discurso da michaela coel ao subir ao palco do emmy (minha companheira assistiu i may destroy you e achou incrível em breve também assistirei), traz umas reflexões sobre…. desaparecer.
dia desses, perguntei a minha mãe se tinha conseguido descansar: ‘’— a gente tenta, mas é tanta zoada do mundo.’’
alguém apertou um botão que não devia, se enganchou num fio, e segunda-feira o conglomerado do mark deu pane. e foi ótimo. pelo menos pra mim, que comecei a respirar melhor, peguei fruta direto do pé, vi as crianças cantando na rua ao som de harpas angelicais e etc.
o silêncio repentino na internet trouxe paz. e lembrei de quando nada disso existia. e as coisas lá nem eram mais fáceis, mas eu sentia menos angústia.
a mãe não gosta de tecnologia. o seu máximo é usar netflix, e só. é muito resistente aos familiares que insistem pra que use o whatsapp e tudo isso que a gente já tá é querendo tacar fogo.
o mais perto que chego dessa suposta liberdade, a sensação de conseguir desaparecer, é quando coloco o celular no modo não perturbe. privilégio que só dura o final de semana. escolher o silêncio é também ir na contramão das vitrines, redes sociais e algoritmos que estão agora mesmo nos observando.
uma das coisas que tenho cultivado é a defesa contra minhas próprias escolhas. não ser refém delas é estar o tempo todo com o limpador de para-brisa ligado. tem uma hora que cansa. preciso me reconectar comigo, pra voltar a caminhar em direção segura. ouço uma música, leio poesia, ou não faço nada.
deixo o silêncio se ocupar no espaço. e por não querer estar num cativeiro, tô aqui na luta pra dizer não. porque tem hora que não dá, simplesmente.
é muito trabalho pra pouco retorno. e assim estão sendo os dias, a partir de uma letargia que torna suas horas iguais pra muita gente. é tempo demais vivendo sob tais circunstâncias. a galera só tá fingindo muito bem que tá tudo bem.
e por que tô falando disso? esta news saiu agora com uma semana de atraso. vivo aquela história de dar um passinho pra trás pra conseguir pegar mais impulso. entender a não-linearidade das coisas, por mais que tentemos fazê-las numa reta, sem interrupções, alivia um peso grande da gente.
na ânsia de ter que sentar na esteira da produção incessante de conteúdo, seguindo os tsunamis dos algoritmos desses bilionário safado, aproveite para mandar se lascar o guru do marketing digital que tenta viver em você.
apresente a ele o melhor resultado possível nessas ocasiões: durma. recomendo.
na mesma news da aline, ela mostra ter dado de cara num ditado japonês que diz: continuação é poder.
continuamos.
até a próxima news!