o que está rolando
1~ a razão de estar aqui. evangelion, paciente 63 e o fim do mundo. fernando pessoa. leituras dos séculos passados. os meninos iam pretos porque iam. veias abertas. a américa latina e links
sim, estou sim colocando mais uma newsletter no mundo, porque ele precisa de mais gente escrevendo besteira na internet.
mas aqui não vai ter (só) besteira. literatura, cultura pop, algumas impressões… uma mistura disso aí com um diário. não vai ter muito plano. a gente vai descobrindo junto.
essa newsletter é fruto do projeto final do curso da Aline Valek. posso ter me encontrado num suporte de publicação na internet, enfim. é uma tentativa de agrupar os pensamentos. acho interessante porque tenho liberdade de me expressar da maneira que minha cabeça funciona.
o flerte com o fim do mundo
terminei o rebuild de evangelion, anime cujo protagonista, shinji, sofre como nenhum outro. depressão, trauma atrás de trauma, uns robô gigante lutando contra aliens invasores, tentando salvar a humanidade. a história é densa, delicada e com gatilhos sensíveis pra algumas pessoas.
nessa versão rebuild, o final reserva outro caminho pros personagens, diferente do que é apresentado na versão da década de 90’s. a questão é que, em ambas, o anime ilustra o fim do mundo.
obviamente o passo a passo até a destruição total acontece pelas mãos de alguns poucos, homens, fanáticos e insensíveis, narcisistas e sociopatas. eu ainda tô falando de evangelion, tá?!
essa galera tenta dar início ao terceiro grande cataclisma, que vai dizimar a existência humana. no cenário em que se ambienta, a civilização ainda tenta se reerguer do segundo impacto. e isso aí tudo pra evoluir sinteticamente a humanidade.
outra coisa que me chamou atenção foi paciente 63, uma áudio série original spotify. mel lisboa e seu jorge protagonizam. a coisa interessante não é só ouvir seu jorge - pois é, a voz do seu jorge - no pé d’ouvido. é você estar diante de uma história sobre o fim do mundo que mantém os pés no chão.
pedra gigante encontrando a terra por acaso? tsunamis? arrebatamento de vosso senhor jesus cristo? o extermínio num estalo instantâneo? nops. em paciente 63 - e no exato instante em que te escrevo essa news - o fim do mundo é agora: progressivo.
“quando a gente tá fechado, os sons de fora são hostis. a gente esquece o som do mundo.” pedro, protagonista de paciente 63.
pandemia. na áudio série, o ano é 2022. pedro volta no tempo - diretamente de 2062 -, é tido como louco e acaba num hospital, aos cuidados psiquiátricos da médica elisa (mel lisboa). ele vem para impedir que uma passageira pegue um avião. ela carrega uma variante do coronavírus, pegasus, a gênese do fim. pelo menos no universo criado por julio rojas, que assina o roteiro original.
e a gente tá vendo ele começar todo dia, né. mesmo sem sair de casa. perdemos um pouco da humanidade quando nos acostumamos ao desgaste. o horror do fim é isso?!
E fora do story, tu tá lendo o quê?
se tornou estranho pra mim ler poesia escrita em séculos passados. devo estar há alguns vários meses estacionado em cancioneiro, do fernando pessoa. é legal reparar no ritmo e na musicalidade. mas algumas palavras não fazem tanto sentido hoje em dia - a não ser que você queira se vestir daquela pretensão de poeta, ser divino, olhe para mim eu escrevo poesias agora tire a roup-
porque ninguém mais conversa desse jeito. ir ali na padaria e meter uma mesóclise pra pedir 2 real de pão e um suco de caixinha? não rola. justamente isso me causa estranhamento.
Outro que tô lendo e gostando demais é os meninos iam pretos porque iam, do lucas litrento, poeta escritor cineasta lá de maceió:
Mano Brown também ama
canalizar a raiva
escrever punchlines
enquanto tocam jazz
escrever como jazz
não parar até que a meia volta do acorde tore no meio do solo
soar como jazz no pífanomostrar que a cor da raiva não é escura
porque fazem amor no escuro
e assistem filmesque não é apenas raiva
se é apenas raiva
fizeram assim
sem mexer um músculo
fizeram assim
criando monstroscompor sambas
porque sabe dançarvirar poeta pra mostrar
que não é feito apenas de raivasorrir como brown
vestido de ouro
cantando soul
o tipo de literatura que me acende nos olhos um fogo particular. não sei explicar direito, é coisa de ler e sentir. todo o curso do livro é feito busca por liberdade, a liberdade atravessada com muita música, jazz e rap, prata no pescoço e pé no chão de asfalto quente. tal hora me peguei pensando nos capitães de areia. pedro bala e professor. a poesia do litrento é massa, e o cara tá vivo. fica aí a sugestão de automimo pra vocês.
e também finalmente resolvi começar a ler as veias abertas da américa latina, do eduardo galeano (lindo que faria aniversário no último dia 03/09). desde 2018 o livro enfeita a estante. peguei uma vez, comecinho de 2019, e não consegui. pensava: não vou ler agora, vou esperar o governo desse merda sair porque vou ficar puto enquanto leio, não vai rolar. mas aí, lendo ou não, sempre tô puto por motivos de mandato que não acaba governo que não some e esse merda que continua aí.
o livro traça o caminho da exploração europeia nesse continente nosso que peleja peleja, cai, mas levanta. sempre levanta.
tenho uma paixão por galeano desde o livro dos abraços, e sempre deixava as veias por último, porque sabia como seria. todo mundo que passa por essa obra deve sentir uma camaradagem queimar de dentro pra fora. é terminar a leitura e sair na rua logo depois, alguém passa do outro lado e você pensa ‘'lá vai meu irmão de continente, fudido como todos nós.’’
o livro dá esse abraço, o sentimento de pertencer. nos identificamos de modo mais consciente ao lembrar que o chão aqui é um grande cemitério, um grande buraco que ficou pra alimentar a europa com tudo que é riqueza, justo quando ela saía por aí, no meio da água, tentando achar alguma salvação que a tirasse da miséria.
fico pensando como teria sido se não tivessem descoberto terras novas. lembro que os astecas eram muito mais avançados em engenharia do que os europeus. os maias dominavam a astronomia, sabiam que o ano tem 365 dias. eram senhores do tempo.
até chegar um bando de barbudo fedorento trazendo um monte de germe e morrendo de escorbuto pra fuder com tudo. até hoje (com exceção do escorbuto).
nesta primeira news, planejava falar sobre cartier bresson, que documentou através de fotografias os processos de artistas daquela época. seria sobre isso, processos criativos. de alguma forma acabou sendo, também. fica aí a deixa para a próxima.
links que aconteceram comigo e podem acontecer com você
assisti made for love, série da HBO que fala de um sujeito bilionário megalomaníaco sociopata do ramo de tecnologia, que planeja entrar na mente da esposa através de um dispositivo criado por ele e que promete revolucionar a vida de casais. obviamente dá ruim.
essa intervenção da raíssa, multiartista de fortaleza. toda vida que vejo o trabalho dela eu lembro que uma das funções da arte é fazer a gente parar. e paro sempre pra ficar vendo, bonito demais.
e a pabllo, que botou lady gaga pra cantar um forró daquele jeito?
casinhas feias, projeto aqui de fortaleza em favor da preservação de imóveis do centro da capital. trabalhava praquelas bandas, no mercado central, e vivia passando por ali, reparando exatamente nas casinhas. muita história. as fotos e a condução do trabalho, com a população do entorno e eles, papeando na calçada, me despertam um senso de comunidade e me devolvem pro felipe de muito antes, anos noventa e anos dois mil. era hábito demais, na época - agora um pouco menos -, fofocar na calçada no fim de tarde. bairros periféricos de fortal ainda preservam esse costume que é abraço, também.
então é isso, meu amigo minha amiga.
se você chegou até aqui, obrigado.
se não chegou, não vai ler isso e não vai saber, então… brincs, joguei pro universo o desejo de que você fique até o fim nas outras.
cheiro grande e até!